sábado, 29 de janeiro de 2011

Abra a cabeça


 
Da caixa de sugestões a idas a museus, conheça nove técnicas para estimular seus funcionários a pensar além do óbvio e trazer propostas inovadoras

por Eliza Robayashi >> ilustrações de Denis Freitas

Numa época em que as informações são facilmente adquiridas, as transformações cada vez mais rápidas e o ciclo de vida dos produtos cada vez menor, saber inovar tornou-se um desafio vital para as empresas. “Atualmente, existe uma grande oferta em nível global de recursos financeiros, matérias-primas e mão de obra que coloca as companhias em condições muito similares, fazendo com que qualquer vantagem competitiva baseada nesses fatores seja rapidamente superada”, analisa o professor Isak Kruglianskas, coordenador do MBA Conhecimento, Tecnologia e Inovação da Fundação Instituto de Administração (FIA). Nesse cenário, o único fator mais duradouro para se destacar da concorrência e sobreviver é a capacidade de inovar em produtos e processos que sejam mais difíceis de imitar. Esse alerta, embora já soado em muitas empresas, ainda gera dúvidas. Alguns não sabem exatamente o que significa inovação; outros não sabem como promovê-la em suas equipes. Para Maximiliano Carlomagno, sócio-fundador da Innoscience, consultoria especializada em gestão da inovação, inovar não é simplesmente empregar uma nova tecnologia ou criar um produto que não existe no mercado, mas transformar ideias em resultados. “Um produto ou serviço só se transforma em inovação depois que impactar o mercado”, explica. Para isso existe uma série de ferramentas no mercado, mas precisam ser bem administradas e usadas com disciplina. É aí que entra o RH. “O RH é a mola propulsora desse processo, responsável por disseminar o conceito de inovação entre os colaboradores, capacitá-los e amortecer os impactos provocados por mudanças e eventuais fracassos”, diz Martha Terenzzo, professora do curso de gestão da inovação do Centro de Inovação e Criatividade da ESPM. A seguir, algumas ferramentas, metodologias e sugestões para promover uma sistemática de inovação em sua companhia.

ESTIMULE O BRAINSTORMING A técnica de brainstorming é bastante antiga e muito utilizada para estimular e gerar uma grande quantidade de ideias a partir de outras correlatas, sem críticas ou restrições. Na gestão da inovação, ela é aplicada em grupos preferencialmente bem diversificados de gestores e colaboradores, para auxiliar ou dar um primeiro passo na geração de ideias com potencial de inovação. Seu resultado pode ser aproveitado para a explicação de outras técnicas, ou como ponto de partida para aplicar novas estratégias de inovação.

CAPACITE SUA EQUIPE Treinamentos e cursos (de curta ou longa duração) sobre o tema podem ser eficientes e ajudar o time a pensar fora da caixa. “Para os gestores de nível mais alto que ocupam posições-chave no processo decisório em áreas mais diretamente envolvidas com a inovação é de grande valia um treinamento em maior profundidade, como MBAs focados em inovação ou uma especialização em nível de pós-graduação lato sensu”, avalia o professor Isak Kruglianskas. Já para colaboradores com responsabilidades mais técnicas e operacionais, são indicados cursos de curta duração, que vão contribuir para que entendam melhor a dinâmica do processo, seu papel e a importância do comprometimento. “Essa capacitação poderá contribuir para consolidar uma cultura de inovação na empresa e, certamente, aumentar sua vantagem competitiva no médio e longo prazo”, diz o professor.

OXIGENE O AMBIENTE Misture áreas, setores e pessoas. Isso vai promover discussões interessantes e novos olhares sobre velhos problemas. “Há uma busca pela redução de barreiras interdepartamentais, pois a inovação atualmente é cada vez mais um processo sistêmico que envolve todas as áreas da empresa”, diz o professor Kruglianskas. Uma das técnicas utilizadas nesse tipo de abordagem é reunir gestores de diferentes departamentos para cada um apresentar seu trabalho e suas ideias aos demais, permitindo que as pessoas possam se conhecer e gerar um maior entendimento de processos. Outra forma é, em vez de fazer um benchmark no próprio setor, faça em outros setores relacionados. “É importante para dar uma oxigenada nas ideias e não ficar com o pensamento viciado”, diz Carlomagno.

ABRA A CAIXA A boa e velha caixa de sugestões também pode ser uma aliada para promover a inovação. “Em muitas empresas, as boas ideias vêm do chão de fábrica, porque as pessoas que trabalham ali indicam soluções simples que um engenheiro não consegue enxergar”, conta Martha, da ESPM. A Caterpillar é um exemplo de empresa que sabe tirar proveito de suas caixinhas. Em 2008, seus funcionários sugeriram 46 315 ideias de melhorias nos processos de produção e 79% delas foram implementadas — o que gerou uma economia de 1 milhão de reais para a empresa. “Críticas de qualquer natureza podem nos tirar da cegueira momentânea, rumo a inovações pequenas e, até mesmo, transformação de ruptura”, diz Sônia Rico, diretora de RH da Porto Seguros, onde a inovação está entre as dez competências organizacionais da empresa. É importante, porém, que haja sempre um direcionamento para as ideias, algo que esteja alinhado com a estratégia do negócio. Ou então a companhia corre o risco de ter uma porção de sugestões sem critérios ou potencial de inovação.

SAIA DA ROTINA O chamado Innovation Day (ou Dia da Inovação) é uma atividade que tira os profissionais da rotina e do ambiente de trabalho por um dia, para que se dediquem a gerar, melhorar e implementar ideias de potencial inovador. “Criar um ambiente físico diferente permite que as pessoas tenham comportamentos diferentes dos das salas de reuniões e das relações rígidas de hierarquias, tornando-se mais propícias a gerar ideias inovadoras”, recomenda Carlomagno, que já aplicou a técnica em diversas companhias. “Uma vez, levei um grupo de profissionais a um museu, tentando desconstruir algumas premissas que guiavam as pessoas no cotidiano, para depois passarmos por uma sessão de geração de ideias.” Vale também promover atividades lúdicas, mas sempre com um propósito definido, como fez a professora Martha Terenzzo, que levou executivos de uma fabricante de óleo de cozinha para preparar receitas com o produto. “Alguns deles jamais tinham aberto um frasco de óleo, ou seja, até então essas pessoas não haviam tido acesso ao próprio produto”, conta. “Na ocasião, eles puderam sentir as dificuldades que o consumidor tem no dia a dia e viram que há muita coisa que podia ser feita para melhorar o produto.”

ORGANIZE WORKSHOPS Os workshops são utilizados principalmente no início de um processo de inovação, quando a empresa deseja engajar os funcionários por meio da sensibilização, do alinhamento conceitual e da mobilização. “Transferir o conteúdo deve sempre ser o primeiro passo para levantar inovações da empresa”, diz Carlomagno, da Innoscience. Assim, os workshops são realizados para preparar as pessoas para o conceito de inovação e criar uma atmosfera adequada para sua implementação. Geralmente, esse papel cabe ao gestor de inovação. Se sua empresa não tem esse cargo, o próprio RH ou uma consultoria especializada pode trabalhar esse conceito.

ATRELE AO BÔNUS Uma boa forma de estimular um trabalho inovador é vincular a gestão da inovação às práticas da gestão de RH, como avaliação de desempenho e remuneração. Você consegue, com isso, gerar um comportamento pró-inovação entre líderes e colaboradores. “Se o profissional puder ser avaliado e remunerado de acordo com suas contribuições em inovação, será muito mais provável que ele dedique seu tempo para fazer coisas novas”, afirma Carlomagno. O Serviço Social da Indústria (Sesi) já adotou o alinhamento entre inovação e avaliação de desempenho. “A avaliação de desempenho do Sesi contempla a competência criatividade e inovação. Nesse processo, é possível mapear o quanto essa competência está presente no desempenho de cada empregado e definir capacitações e ações de desenvolvimento que a estimulem”, diz Renato Paiva, gerente executivo da área compartilhada de RH da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ligada ao Sesi.

FAÇA VALER As empresas podem atrelar às boas ideias sugeridas alguns prêmios aos funcionários. Além de estimular novas ideias, o prêmio é uma forma pública de reconhecimento — o que valoriza o profissional. “As pessoas também ficam felizes de participar e se tornar parte do processo de soluções e inovações da empresa”, diz Martha. Além disso, os concursos geralmente exigem a criação de planos e ideias mais elaborados e estruturados. E, assim como outras técnicas, exigem que haja um direcionamento adequado, para que não se perca o foco de vista e os objetivos da empresa sejam atendidos.

INFORMATIZE AS IDEIAS Os softwares de inovação integram algumas modalidades anteriores de forma automatizada. “Eles possibilitam fazer a coleta e a filtragem de ideias, avaliar o potencial delas por meio de parâmetros e geri-las”, explica Carlomagno, que trabalha a ferramenta em diversas empresas. “Além disso, permite a participação de fornecedores, clientes e consumidores para darem suas opiniões sobre produtos e serviços da companhia.” As vantagens do uso da ferramenta são agilidade na geração e avaliação de ideias e a ampla participação das pessoas (envolvendo o público externo) no processo de inovação. “A evolução da Web 2.0 também vem abrindo um enorme espaço para o surgimento de novas ferramentas que favorecem a inovação compartilhada por um número crescente de participantes, o que permite o uso de uma inteligência coletiva cada vez mais potente”, afirma Kruglianskas, da FIA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário